segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Aparente realidade.

Em meio a tempestade, o céu me oferece vento, uma paisagem de raios e granizo. Um estouro, um susto, um clarão, um arrepio, tudo ao mesmo tempo. Não se deve correr, tão pouco se abrigar, em uma tempestade o melhor é deitar. Temer? Chorar? Sorrir? Coube a mim a escolha. Contemplar.

O corpo todo oferecido a intempérie. Péssima escolha. Acabou a contemplação. Me sento abraçando as pernas. Faz Frio. O corpo sacoleja em busca do calor, o queixo bate descompassado. Acho um compasso, bate.. mas agora no ritmo que desejo, esqueço do frio. A cabeça baixa tira a esperança, é preciso olhar ao céu em busca duma fresta, algo que anuncie o fim desta frieza.

Diminuem-se os raios, estendo as mãos e sobre elas cai um pedaço de gelo. Presente dos céus, ele começa a queimar e aquecer os meus dedos, elevo meu olhar em graça e avisto o sol avançando timidamente e dissipando as nuvens.
Ele é meu, somente meu, e veio a meu encontro, e agora me esquenta, eu, eu mesmo, quem sentia frio, tudo faz sentido. Destino? Sorte? Não preciso de definição na verdade. Estamos juntos.

Volto meu olhar para ele, e percebo que lentamente vai se transformando em outra coisa, coisa esta que não me aquece mais. Não posso abandonar-te, em meio a solidão que estive, somente tu esteve comigo, do mais temível frio, fui tu quem me aqueceu. Mas agora vai-se, e pingando sobre meu dedos alcança a terra. Tudo bem, não precisa me esquentar, agora seu estado natural é outro, mas ainda assim, lembrarei pra que me serviu e buscarei em ti uma nova utilidade. Levarei-te comigo, e farei-te um altar. Tiro meu chapéu e o acolho no meio dele, uma bacia, estamos junto.

Tudo parou: a chuva, os raios, o frio e a solidão. O sol que me alcança, me anima a caminhar, levanto e contemplo a imagem disforme de quem mais me aqueceu.
Agora é todo líquido, reflete o sol, e não só reflete mas é seduzido e vai lentamente evaporando para longe do meu altar.


terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Balboa

Caminhava em minha direção, éramos só nesta rua, o transito cessara e previsivel era nosso encontro, um vento contrario a minha face, me faziam sentir o seu perfume de podridão, nao existia prioridade para com seu corpo, nem com sua aparencia, talvez até para sua vida. Seu cabelo duro não se mexia nesta brisa, seus passos arrastados denunciavam a deriva do seu destino.

Ainda não havia notado minha presença, e meu olhar percorria-lhe o corpo na esperança de encontrar algum ferimento, alguma cicatriz, características de um guerreiro de rua.

Quando se depara com minha presença apura os passos na direção de um poste, e cerrando as mãos, ajeitando a postura poe-se a socar. Paro e contemplo a cena, não busco respostas, quero somente olhá-lo, estamos perto, na distância de alguns passos, nossos olhares se cruzam, mantenho-o preso aos meus: encarando-o. Não sinto medo, nem ao menos ameaçado, tão somente aquele gesto me diz: ainda tenho forças para lutar, para vencer. E em resposta lhe digo: já venceste o mundo guerreiro, ainda está de pé.




sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Escadas da conquista.

Sentado, enquanto aguardava ser atendido pelo médico, olhava ao redor buscando alguma distração, já se passara meia hora e sabe Deus mais quanto tempo aguardaria. Não me importo de esperar, mas preciso de algo para me entreter, olhando para a parede na escadaria procuro encontrar um padrão geométrico nos cartazes informativos colados na parede, eram 6 no total em 3 fileiras com 2 colunas, os da fila to meio estavam tort.. zuuuummmm, passa um garoto com seus cinco anos, e cabelo metricamente cortado, suas vestes apontam toda sua inquietude, roupas surradas e com algumas manchas de barro, ele não andava, corria.

Corria em direção ao segundo andar, aquele lance de escadas, e nela dois platos, eram o tempo do garoto tomar folego. Quando chegou la em cima, eu e ele sentimos falta daquela faixa de chegada, era uma conquista, precisava de comemoração, não precisava ser champagne, suco estava bom, afinal ele era uma criança. Não demorou muito para que ele voltasse a correr, desta vez, descendo a escadaria.
No meio desta pista, um homem engravatado com ar de segurança diz para o garoto ter cuidado.Ele finalmente desce e andando agora ofegante vai de encontro ao seu pai sentado em uma cadeira de rodas um tanto apático, cansado e desiludido, e num abraço o garoto encontra seu troféu.

Não foi somente o troféu que ele encontrou, ele encontrou folego.Mais que rapidamente se posiciona junto ao pé da escada. A prova agora é outra, com os dois pés juntos. Numa fatigante subida ele vence novamente, eu tinha certeza que conseguiria,e novamente sentimos falta da faixa de campeão. Agora sua descida é lenta, seu peito ritmado, numa respiração quase audível para mim, aquelas mãos pequeninas segurando o corrimão, mostra e tão somente mostra que ele deu tudo de si.
Ele agora caminha ao pódio, primeiro lugar, o suor na testa, as costas levemente arcadas, o doce sorriso no rosto e enfim seu premio, o colo do pai. Eu, o unico e secreto espectador, comemoro, e com lágrimas ao invés de palmas saúdo este jovem campeão.












domingo, 29 de setembro de 2013

Celeiro da Despedida.

Meu corpo estava quente, a bota em passos firmes dada aos largos passos, esmagava as relvas que no caminho estavam. Caminho este sem rumo, o alvo era o horizonte e tão somente ele; no fim da tarde o frescor da brisa era bem vindo ao meu suor, fechar os olhos durante o vento é como um carinho na pele. O único incomodo que eu tinha naquele momento era com minha bagagem, que carregada nas costas e pelo seu peso, começava a me fazer pequenas feridas nos ombros onde a alça apoiava.

O incômodo tornara-se uma necessidade de descanso, mas deitar e dormir na estrada estão muito aquém do meu desejo, continuo andando acompanhando o despertar de uma noite fria e escura. Avisto uma pequena casa a minha frente, de madeira, com uma chaminé declarando o preparo de um quitute, acredito ser salada de fruta, me dou conta e estou andando mais rápido, até minha respiração mudou.

Todo um jardim enfeitado, a caixa de correios era uma miniatura de sua própria casa, uma varandinha defronte a porta, e três degraus separando-a do jardim, era tudo extremamente lindo e convidativo a um aconchego, permaneço um bom tempo num estado contemplativo até que sou surpreendido pelo ardor nos ombro. Então, decido bater, prontamente eis que surge diante de mim uma linda garota, meu olhar se mescla   entre seus olhos e sua mão gordinha apoiada a porta, percebendo seu ar de indagação, peço por uma hospedagem e um prato de sopa, seu sorriso antes de suas palavras declaram uma alegria em meu pedido, e em seus olhos percebo que me ofereceria muito mais do que eu pedia.

Me aproximo em direção a porta, e balançando a cabeça em negação diz que o jantar ainda não está pronto, e que a casa ainda está uma bagunça, certamente queria me impressionar e gostaria de me receber com tudo em ordem. Com seu meigo sorriso, pede que eu aguarde e fecha a porta. Dou uma risada interna, daquelas fungadas com o nariz sem mostrar os dentes, acho graça pois afinal o que um suado viajante se incomodaria naquela ajeitada casinha? Num instante ela retorna e abre a porta me trazendo um banquinho e uma xícara de chá, chá este um tanto morno, certamente feito na manhã daquele dia e guardado numa térmica já não tanto eficiente, me alegro com isto afinal nada tinha para beber, mas que era morno era.

Retiro a mochila e a posiciono no chão, respiro aliviado, avalio que pausas devem ser mais constantes para meu bem estar. Posiciono o banquinho em direção a estrada e percebo do céu cair pequenos flocos de neve, certamente essa noite seria fria, e eu havia me dado bem. Chegando a esta conclusão batuco com os pés no chão, assobio, bato o pé e dando tapas na coxa faço ritmo, compondo uma canção.

O que será que estaria em desacordo naquela casa?O que a minha vista não poderia ver? Não que me importasse com isso, mas a curiosidade me encontrava, a curiosidade antevem as mais furtivas ações. Levantando, desço sorrateiramente as escadas e coloco-me a circundar a casa, parando em cada janela e tomando o cuidado para não ser visto. Nada vejo, ouço somente barulho de arrastar de móveis, e assobios, julgo ser notas daquelas feitas para não ser atormentada pelo silencio que conduzem a introspecção.

Sentado novamente, fecho as mãos em concha e em rápidos sopros tento aquecer-me, levanto, sento, levanto, sento.. tudo que queria era estar lá dentro. Bem, a neve tá mais forte, não posso ficar parado aqui. Quando as necessidades vitais estão em jogo, os sentidos estão dispostos para tal realização.

Lembro daquele sorriso, daqueles olhos e da mão gordinha. Isso me sustenta mais um tempo ali em frente, fecho os olhos e mantenho esta imagem. Começo a ter certeza de que tudo é lindo lá dentro, posso sentir o conforto de um sofá de couro marrom, as notas de um piano, a lareira em fogo brando.. Sou desperto pelo meu corpo num arrepio violento. Não me serve essa ilusão da sopa no fogão, o sofá macio e a lareira queimando é preciso estar vivo e aquecido.

Pego a mochila, coloco nas costas e parto. É um parto partir quando se esteve tão perto de existir.









segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Gelol

Já não sinto mais o cheiro no travesseiro, durmo de costas,
bate um desespero na minha porta

A rima fraca, infantil mostra o embrutecimento
a agua morna não degela, apenas esfria, o gelo degelando só resfria mantendo acordado,
quando não se dorme, não se sonha,
não se sonha não se vive
o sol faz sombra a lua
que brilha somente escorada no gigante
pólvora que explode não atinge, apenas fragmenta em traços de luz, 
é passageiro 
a passagem conduz a lugares, a pessoas novas, mas o caminho do gelo é voltar ao mar
Velegar é preciso, erguer o mastro e fechar os olhos, o vento cuidará desta rota
que levará para casa, a bahia de todos os santos.


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Dog.

Conta-se a história de um pequeno cão pastor,
o jovem cachorro vivia em matilha, como qualquer cachorro normal..
lá aprendeu a caçar, lá aprendeu a roer, lá aprendeu a brincar.. conduzindo por seus instintos e capacitado a casar decidiu por namorar.
foi cortar lenha, fez a casa, o quarto e a cama.. com suor gosto e apreço um lar construiu.
A lua estava clara, o uivo se ouvia por toda a floresta, e uma linda cadela pelo cão se encantou..
No cortejo no chamego na paixão o primeiro beijo rolou,
a dança se fazia, a musica soava, e a cadela em sua matilha lá permanecia e somente lá sonhava,
o cão convidou, a cadela recusou e o amor esfriou...
A casa construída permanece vazia, o cão em sua cama uiva para alguma corajosa da matilha.


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Pipoca.


Ligo o microondas, a pipoca assa frita e pula
numa explosão de pressões e calor se transforma
muda a forma

Mudei, como pipoca de microondas
mudei, a pressão já não me incomoda
não transforma não deforma

De olhar a forma o jeito e o medo paramos
não andamos
choramos

Mudei, mas por pouco tempo
pois no tempo não se para
não se forma
apenas transforma.