quarta-feira, 11 de abril de 2012

Música para ser sentida !

Todo dia após uma noite de acalento descanso eu despertava com a mesma sensação e desejo de fazer música, o desejo de amar, era tão somente isto que me fazia tirar os pés da cama e pô-los no mundo....

Então na mesma ritualidade sacra pegava meu violino e após uma lenta e profunda contemplação eu o assoprava, assoprava como a brisa da manhã de modo a despertá-lo e prepará-lo para seu trabalho; sentava-me assim aos pés da rua pois a musica não se contem, não se pode fazer música no quarto, ela é feita para expandir, para alcançar...

Apoio o violino no meu ombro e precisamente elevo minha mão.. o arco que seguro aponta para o céu conectando o terreno ao transcendental, dando-me novamente a capacidade de amar. Antes de tocar a primeira nota, paro e penso : que ponte é essa? Sinto-me convencido de que não poderei compreender esta ligação, tem sentimentos e vivências que transpassam a razão....

A boa música inicia, fluindo o rangido das notas e de amor contagiando a todos os transitantes de minha rua, dentre os que passam meus olhos se detêm numa bela garota, que em seus passos firmes equilibrados e compassados me encantam e me alegram. Noto o exato momento em que ouve a minha música, o meu amar.. Ela para, sorri e inclinando a cabeça, procura o som que lhe agrada, então nossos olhos se encontram, timidamente desvia seu olhar e volta a caminhar sorrindo e extasiada com a boa musica que lhe alcança....

Ao passar pela minha frente seu corpo se inclina em minha direção contrário a sua racionalidade, pois num súbito realinho seu passo e corpo retornam para seu "original" caminho. Continuo a tocar, agora um tanto inquieto pois sabera que minha música ecoou e questionou aquela bela garota. A noite se aproximava e minha cama num sugestivo convite, convidava-me a deleitar-me nos seus macios lençóis. Cedo ao pedido e me deito, adormeço e acordo...

Acordo no mesmo anseio diário de fazer música, de amar. A ritualidade se repete de maneira ansiada e um tanto apressada, vou a rua na esperança de rever o caminhar que me encantara. Logo que me ponho a tocar avisto a garota, que um tanto descompassada mas convicta, caminha em minha direção, percebo em suas mãos uma bagagem que mal saberia me tiraria o fôlego. Na proximidade de estabelecer um diálogo ela para diante de mim, pacientemente sem querer interromper minha música aguarda, ora olhando para o violino, ora olhando para meus olhos. Não silencio o ranger das cordas, mas pergunto o que fazes a minha frente, sorridente responde que gostava daquela rua e desejava fazer música ao meu lado para os transitantes; assinto com a cabeça quase de imediato,então ela retira de sua mala, um violino, o arco e uma banqueta...

Continuo a tocar, agora um tanto artificial, pois distraio-me admirando posicionar-se na banqueta e elevando o arco. Sua música começa e assim permanecemos lado a lado, cada um no seu ritmo, cada um na sua música, cada um no seu amor.. Até que de repente tocamos a mesma nota e no mesmo ritmo, aquele som entrou nos meus ouvidos e percorreu todo meu corpo ecoando e fazendo esfriar todo meu interior.. Quando recuperei meu ar percebi que ela estava um tanto mole, enfraquecida, talvez também pela similaridade da nota.... Prosseguimos tocando e olho para ela, olho buscando entrelaçar-me no seu olhar, ela percebendo minhas intenções olha para mim e encontra-se comigo numa busca de entendimento e desbravamento..

Nesse olhar, nesse encontro uma nota se combina, duas notas se combinam, primeiro os olhos sorriem, segundo o sorriso se abre.. nesse sorriso um verso se faz, e uma musica começa a ser tecida, sem palavras, somente por olhares, somente pelo desejo de fazer música e somente pelo desejo de amar.. O piscar agora já não é mais distração para parar a música e distrair os dois músicos... Os transitantes que antes caminhavam agora flutuam quando a música lhes alcança..

O sol já tímido se despede e a lua na sua imponente presença quer fazer-se solitária na rua.. A música para, os violinos são guardados, as mãos são dadas e o caminhar é para dentro da casa, onde o único som será o dos corações que ritmados batendo junto fazem agora uma eterna canção !!!

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